The Legend of Altazar

Trecho do livro "The Legend of Altazar", de Solara.

Copyright, 1987 por Solara. Todos os Direitos Reservados.

Traduzido por Andre B. Souza


Quando Solana soprou a sua trompa feita de concha dentro do Templo de TI-WA-KU, ele não tinha a mínima idéia sobre qual seria o resultado. Era um momento tão perigoso, que ele apenas tinha obedecido à sua voz interior e soprado na concha. Ele havia presenciado a queda de Altazar com uma mistura de distanciamento e descrença, esperando que o fato dele deixar que o drama se desenrolasse por si mesmo o ajudaria a se libertar e também ao próprio Altazar. Infelizmente, não foi o que aconteceu, ou assim ele pensou. Pois quando a concha respondeu ao seu sopro com um longo e profundo chamado, tudo simplesmente desapareceu de sua frente.

Solana se deu conta de que se encontrava sozinho, mas indene, de pé sobre o cume de uma montanha. Ela não sabia onde estava, nem como tinha feito para chegar lá. Muito longe no horizonte, ele conseguiu divisar um trecho irregular de água muito azul, que supôs que provavelmente seria uma parte do Lago Ti-Tika. Ele agora se encontrava muito acima do nível das árvores e a altitude extremamente elevada conferia ao ar que respirava uma pureza cristalina, que o enchia de força vital, ou "prana-chita". Ele conseguia enxergar os pequenos diamantes que dançavam na atmosfera que o rodeava. Não sabia onde estava, mas era um lugar que o enchia de um senso de maravilhamento.

Solana se postou frente ao Sol e então ergueu seus braços, recitando com gratidão a ancestral oração de AN:

Nossa reverência a vós, Ó AN de ANTES!
Vós sois o Olho do Uno,
A luz que brilha na escuridão,
A escuridão que há dentro da luz.

Permita-me, Ó poderoso AN
Que eu possa trilhar o caminho da paz,
Que eu possa corporificar a totalidade,
Pois eu sou justo e verdadeiro.

Depois disso, Solana sentou-se, arrumou as dobras de seu poncho ao seu redor e começou a meditar.

Após algum tempo, Solana se deu conta de um suave som de sininhos que se aproximava dele. Abrindo seus olhos, ele deu com um homem que se aproximava, carregando um cajado dourado encimado pelas figuras de um Sol e uma Lua em ouro, nas quais se penduravam vários pequenos sinos dourados. O rosto do estranho denotava uma imensa nobreza e ele se movimentava com um certo esplendor real. Ele era alto, tinha cabelos negros que usava soltos e também era muito bonito. O olhar em seus olhos negros era intenso e profundo, porém amável. Uma curta túnica, delicadamente tecida em lã de alpaca, envolvia o seu corpo esbelto. E o que era mais notável, em suas orelhas ele portava grandes brincos redondos de ouro, na representação de brilhantes discos Solares.

O estranho cumprimentou-o com uma reverência e então ergueu os seus braços em direção ao Sol, dizendo orgulhosamente: - "Solana, nós lhes damos as boas vindas ao Reino de AN! Eu me chamo Aka-Capac. Venha comigo e eu o levarei até lá."

Solana sorriu abertamente, principalmente de alívio por seu resgate, mas também com grande alegria e expectativa. Ele havia encontrado o mítico Reino de AN! Levantou-se e deu um firme aperto de mão em Aka-Capac. “Obrigado por me encontrar. Por favor, vá na frente e eu o seguirei!"

Aka-Capac olhou-o com receptividade e entendimento; então ele também sorriu alegremente e assentiu. "Venha irmão, você hoje teve um dia cheio. Em breve você terá paz."

E começou a guia-lo rumo à base da montanha, seguindo uma trilha pequena, porém bem cuidada. Lenta e cuidadosamente, os dois seguiam seu caminho ao longo da trilha escarpada, ziguezagueando de um lado para o outro ao longo da face da montanha. Mais abaixo, Solana pode ver um rio que serpenteava por um fértil vale verdejante.

"É este o Reino de AN?" ele perguntou.

Aka-Capac então respondeu: "Este é de fato o AN, assim como tudo isso também é e nós também somos." E gesticulava apontando para o panorama de montanhas e céu à toda volta deles.

Após algum tempo eles chegaram até o vale e por muito tempo se puseram a margear o rio. Um som de música começou a se fazer ouvir ao longe... como que ondulando ao sabor da brisa fresca. Quando chegaram mais perto, o longo e grave sonido de uma trompa se fez ouvir, vindo de um pico nas proximidades. O som ecoava por todo o vale. Então ouviram uma segunda trompa, vinda de um outro pico, que parecia responder ao chamado da primeira.

"Estão anunciando a nossa aproximação," explicou Aka-Capac.

Solana sentia uma forte excitação, vinda bem do fundo de seu ser. Breve eles passaram entre duas rochas gigantescas, que marcavam a entrada para o vale secreto de Ani. Vários homens, aparentando uma forte semelhança física com Aka-Capac, lá estavam de guarda e acenaram para eles quando passaram. Aka-Capac então virou-se para Solana e cochichou em seu ouvido: "Agora é a hora de você mais uma vez fazer soar a sua trompa de concha, desta vez para enviar sua saudação a AN."

Solana empertigou-se e, com grande seriedade e respeito, levou a trompa aos seus lábios e soprou. O som fluiu ao vento e se espalhou com a velocidade de uma flecha dourada. Podiam-se ouvir os ecos que vinham em resposta: eco—eco—eco, à medida que o som ricocheteava de montanha para montanha, até morrer suavemente ao longe.

Aka-Capac sorriu para ele. "Muito bem, meu irmão. Seja benvindo ao seu lar, Solana. Na realidade é uma honra para mim poder guia-lo até aqui."

Enquanto prosseguiam pulando de rocha em rocha, Solana viu que aqui e ali começavam a aparecer casas de pedra com telhados feitos de palha seca. E pessoas! Pessoas bonitas e de aparência saudável, homens, mulheres e crianças, que sorriam e acenavam quando eles passavam.

Podia-se ouvir sussurros excitados, como "Vejam, lá vem Solana. Ele veio! Solana conseguiu chegar aqui!" Em todos os lugares havia uma atmosfera de amor e cordialidade.

À frente deles apareceu uma grande pirâmide escalonada, feita de tijolos cozidos ao sol e assentados sobre rochas. "Esta é a Pirâmide de Anani," Aka-Capac lhe disse. "Nossos Antigos esperam por nós lá. Você está pronto para sauda-los?" ele perguntou.

"Sim," respondeu Solana humildemente. Nesse momento ele sentia que era como se seu coração estivesse para rebentar de pura alegria e júbilo. "AN é exatamente como eu sempre imaginei que seria" ele explicou para Aka-Capac. "Tudo aqui me é perfeitamente familiar."

"Isso é normal e simplesmente ocorre porque esta é a morada da sua verdadeira linhagem. É sempre assim para todos nós que voltamos para cá pela primeira vez. Todos nós já sonhamos com este lugar, mas nunca tínhamos certeza se AN realmente existiria ou não no plano físico." esclareceu Aka-Capac.

Eles tinham chegado à base da Pirâmide de Anani e começaram a subir a infinidade de degraus que subiam pela sua face frontal, subindo até terem atingido o que se poderia chamar do seu quarto nível.

Entrando por uma entrada em ângulo inclinado, eles adentraram o que seria um amplo aposento quadrado. Lá dentro encontraram, sentados sobre cadeiras de belo lavrado de ouro e prata, um homem e uma mulher. Eram os seres mais fascinantes que Solana já havia visto. Vestiam simples túnicas brancas e eram velhos, incrivelmente velhos, mas ao mesmo tempo brilhavam com a beleza radiante de suas Essências transcendentes. Eles emanavam o Amor Perfeito e a Mais Pura Sabedoria.

Solana teve uma forte impressão de já conhecer esses dois, e conhecer muito bem. Ele começou a ser inundado por um avassalador sentimento de nostalgia, algo quase a um passo da completa lembrança.

"É você, Solana?" perguntou o ancião, num tom que denotava grande autoridade.

"Sim, Tayta . . . meu Pai, Pai do Sol," respondeu Solana, sentindo uma forte emoção quando o homem o tocou na altura de seu coração.

"Solana, meu filho, temos o prazer de dar-lhe as boas vindas de volta à sua casa, neste Reino de AN," pronunciou o Pai-Sol.

A mulher esperara pacientemente por sua oportunidade de saudar Solana. Seus cabelos, brancos como a neve, estavam puxados para trás e presos em um nó folgado. Sua face, apesar de muito enrugada pela idade, brilhava com a alegre beleza que a animava. Quando finalmente tomou Solana em seus braços, ela o estreitou e sussurrou-lhe: "Oh Solana, damos-lhe as boas vindas a AN. Esperamos muito tempo por este dia, sempre vendo-o chegar mais e mais perto de nós. Nunca duvidamos que você haveria de encontrar o caminho para cá," disse ela com profunda emoção.

"Mamay, Mãe da Lua . . . oh Mamaki!" Solana respondeu, com suave ternura, sem nunca questionar nem o fato de que os reconhecia e conhecia seus nomes, nem porque se atrevia ele a falar-lhes com tal intimidade.

"Vocês devem ambos estar cansados e famintos de suas longas viagens, não?" ela perguntou. Voltando-se para um dos presentes, ela sinalizou para que trouxessem comida a Solana e Aka-Capac. Eles foram levados a uma alcova contígua, onde se sentaram comodamente sobre grandes almofadas de tecido que estavam sobre o chão. E ali foram-lhes servidas comidas e bebidas maravilhosas, que deixaram Solana sentindo-se refeito e energizado.

Após ambos terem comido até se saciarem, o Pai-Sol perguntou: "Mas o que aconteceu com Altazar? Ele não estava vindo para cá com você?"

A face radiosa de Solana ensombreceu-se com a dor e as memórias de seu querido amigo. "É uma história muito triste. Eu receio que ele esteja perdido para nós. Em nosso caminho para cá, fomos capturados e levados até o Templo de TI-WA-KU. Lá, Altazar caiu vítima de um encantamento de Mu'Ra, do povo de quatro dedos. Não foi possível traze-lo junto comigo. Mu'Ra nem mesmo teria permitido que eu partisse. Ela acabou por ordenar a Altazar que tomasse do punhal de prata dela e me apunhalasse. Ele estava a ponto de me matar, quando fui instruído por uma voz interna para soprar a minha trompa." Solana apontou para a grande concha que ainda pendia da correia de tecido ao redor de seu pescoço. "Pergunto-me se não haveria alguma maneira de nós efetuarmos um resgate para tira-lo das mãos daquela feiticeira enlouquecida?" ele implorou.

"Solana, meu querido," respondeu firmemente a Mãe-Lua com esclarecida sabedoria, "não nos é dado interferir nos assuntos de TI-WA-KU, nem lhes é permitido interferir nos nossos. Durante os antigos tempos, há muitas eras, ele era a habitação de muitos membros do povo de quatro dedos, além de servir de guarida a seres das estrelas, muitos dos quais tinham origem no Sistema de Sírius. Eles foram os primeiros colonizadores deste planeta. Então, TI-WA-KU funcionava como um importante centro de iniciação e aprendizado para a humanidade."

"Nossas lendas mais antigas nos contam que durante essa era do início do ciclo terrestre, não muito longe das margens do Lago Ti-Tika, havia uma gruta sagrada que tinha quatro saídas. De cada uma dessas saídas emergiu um casal de humanos que eram, a um tempo, marido e mulher e irmão / irmã. Os quatro irmãos eram chamados de Ra'Mu, Me'Ru, Ma'Nu, e Ra'Ma. A irmã daquele chamado Ra'Mu era a Mu'Ra original."

E prosseguiu, dizendo: "Muitos dos ancestrais dos numerosos grupos e reinos tribais foram gerados a partir daqueles seres de TI-WA-KU, vindos de universos distantes. Você não sabia que foram eles a origem da tua própria gente em Rapan-Nui e na Lemúria? Nós próprios também carregamos o seu sangue na nossa linhagem. Por isso, TI-WA-KU sempre será para nós um antigo santuário sagrado, não importa quem esteja vivendo lá. Os seres estelares que lá habitaram eram altamente desenvolvidos e vieram a este planeta para servir à humanidade. Muitas coisas úteis foram por eles trazidas aos diferentes povos: práticas agrícolas, cosmologia, artes têxteis, processos telepáticos, os conhecimentos sagrados dos metais e cristais, conhecimento sobre as ervas e sobre como erguer as pedras... tantas coisas maravilhosas que é impossível descreve-las aqui, mas que foram muito benéficas para o planeta."

"E o que houve com esses habitantes originais de TI-WA-KU?" perguntou Solana, com grande fascínio.

"O seu ciclo de trabalho no planeta simplesmente se encerrou," respondeu o Pai-Sol.. "Então eles se foram daqui e retornaram a seus sistemas galáticos de origem."

"Todos, menos um," completou Aka-Capac em voz cavernosa. "À feiticeira Mu'Ra não foi permitido o retorno junto com os outros, devido ao fato de suas energias terem ficado envenenadas pelo contato com a densidade do campo magnético da Terra."

"Entenda, Solana," continuou a Mãe-Lua com desenvoltura, "o que se deu foi que a mulher Mu'Ra permitiu que o seu escudo áurico fosse penetrado devido ao contato com uma quantidade excessiva de homens da Terra, homens de frequência vibratória inferior à dos seres estelares. Isso fez com que a sua própria vibração baixasse a tal ponto, que ela não mais conseguiu manter a integridade e o controle impecáveis, que são um pré-requisito absolutamente necessário para que se seja um canal puro para as energia dimensionais mais elevadas. Mu'Ra não mais conseguia lidar com essas energias de forma correta, e assim começou a recorrer cada vez mais a artes mágicas e manipulação para poder liberar as frequências imensamente poderosas às quais ela estava acostumada."

"E assim, suas energias começaram a se tornar cada vez mais distorcidas," explicou Aka-Capac.

"E por quê isso só aconteceu com ela e não com seus outros irmãos também?" perguntou Solana.

A Mãe-Lua então explicou: "Apesar de não haver perigo quando um ser estelar macho implanta sua semente das estrelas no ventre de uma mulher da Terra, o caso é totalmente diferente quando a situação é a oposta. As mulheres de quatro dedos foram claramente informadas acerca dos perigos para seus campos de energia, caso se envolvessem sexualmente com os homens da Terra. As outras mulheres seguiram essas regras. Mas Mu'Ra não. Ela as transgrediu a tal ponto, que deu à luz vários filhos de diferentes homens humanos. Isso causou uma séria perturbação em suas polaridades dimensionais." (Só as extraordinárias histórias dos filhos de Mu'Ra por si sós já dariam outra narrativa absorvente, caso o eremita tivesse tempo para lembra-las.)

"Mas o que eu ainda não entendo " interveio Solana," é a questão de se AN está ciente de todas essas coisas, por quê não se faz nada em relação a elas?"

O Pai-Sol então falou com uma calma autoridade: "Porque, Solana, AN tem um antigo pacto de confiança em relação a TI-WA-KU, estipulando práticas de não-interferência e de respeito mútuo. Assim, fica além de nossa alçada qualquer interferência; mesmo que o lugar, o que é triste, tenha se tornado um foco de padrões negativos de energia."

"Perdoe-me por fazer-lhe tantas perguntas," desculpou-se Solana, "Não tenciono faltar-lhes com o respeito, apenas falo isso devido à minha grande preocupação com Altazar. Não me sinto bem tendo-o deixado tão desprotegido."

A Mãe-Lua lhe dirigiu um olhar de amorosa compaixão. "Entendemos isso, meu querido. Mas existe algo que você pode fazer, que trará paz ao seu coração. Há uma mulher que mora à distância de uma noite de jornada daqui. É uma ermitã que se diz que é capaz de ver tudo. Ela nem sempre é acolhedora para com estranhos, mas eu sei que ela vai reconhece-lo. Ela poderá informa-lo acerca do destino de Altazar. A jornada para seus domínios é difícil; a trilha é secreta e poucos já conseguiram completa-la. Pois a ermitã se compraz em passar o máximo de tempo possível em silêncio e privacidade. Caso ela fosse mais acessível, ela provavelmente receberia uma torrente de visitantes e não teria qualquer tempo seu para poder acessar as Crônicas do Akáshico."

"Você terá que esperar até que a Lua atinja a sua fase de plenitude, pois essas são as únicas noites em que a trilha secreta se revela," explicou o Pai-Sol. "E até que esse dia chegue, Solana, temos ainda muita coisa que desejamos compartilhar com você por aqui."

E foi assim que Solana, Sacerdote dos Rapan-Nui, conseguiu adentrar o Reino oculto de AN e lá recebeu uma cálida acolhida. Então percebeu que aquele Reino era seu verdadeiro lar. Nunca antes havia ele experimentado uma plenitude tão serena.

Durante esse período, foram-lhe abertas muitas portas para a compreensão dos Mistérios. Ele foi iniciado nos Templos do Sol e da Lua, e também nos Templos da estrela da manhã, que era chamada de Chas'ka Collya, do arco do Arcoíris, e do Trovão e Relâmpago. Cada templo pelo qual ele passava era mais um passo para o despertar de seu conhecimento interior. Foi lá que ele atingiu a plena maturidade, tanto como homem quanto como Deus.

O tempo passou e a Lua começou a se aproximar de sua fase cheia; enquanto isso, Solana esperava pela noite em que ele começaria a sua jornada solitária rumo aos domínios da mulher ermitã. E, sabendo muito bem de sua chegada iminente, eu me preparei para recebe-lo.